A homofobia e o mau exemplo de Cameron Post

Créditos da imagem: cena do filme

O Mau Exemplo de Cameron Post é um filme estadunidense, lançado em 2018 e dirigido por Desiree Akhavan. Com 91 minutos de duração, a produção é baseada em um romance escrito por Emily M. Danforth, e conta a história de Cameron Post (Chloe Grace Moretz), uma adolescente lésbica, inserida num cenário ambientado da década de 90. 

A trama gira em torno da repressão que Cameron sofre em todos os sentidos: a adolescente, órfã, tenta “mascarar” sua orientação sexual para não sofrer julgamentos homofóbicos, com atitudes que incluem levar um menino para acompanhá-la ao baile e assinar um termo concordando com sua internação em um centro religioso que afirma converter jovens LGBTQIAP+. 

Esse tipo de comportamento é muito comum em sujeitos queer quando estão  tentando descobrir e entender quem são e qual espaço ocupam. A negação, a confusão e a dúvida fazem parte desse processo de autodescoberta, uma vez que, devido à sociedade preconceituosa em que vivemos, sair dos padrões sociais impostos por ela significa lidar com exclusões e violências. 

No filme, a protagonista Cam é flagrada por seu namorado, Jamie, ao transar com sua melhor amiga, Coley (Quinn Shephard), que é a pessoa que ela ama e se sente atraída. As cenas de sexo e desejo entre elas são filmadas não de maneira fetichista, mas de forma que o espectador perceba a intensidade e paixão envolvidas no cenário. Após o flagrante, a tia religiosa de Cameron decide enviá-la ao God’s Promise (Promessa de Deus), lugar religioso que tem como objetivo converter jovens atraídos pelo mesmo sexo, termo utilizado por eles para negar a existência da homossexualidade. 

Nesse centro, Cam faz dois amigos, Jane (Sasha Lane) e Adam (Forrest Goodluck) e, lá, eles são submetidos a “técnicas de conversão”: são obrigados a fazerem orações constantes e sessões de terapia nas quais são instigados a mapear os aspectos de sua criação que levaram à homossexualidade, que é vista o tempo todo como uma doença. Os estereótipos são abundantes e tidos como problema: meninas são levadas a culpar o gosto pelos esportes e, meninos, as atividades “femininas” que faziam com a mãe. 

O God ‘s Promise, no longa, é comandado pela psicóloga Lydia Marsh (Jennifer Ehle) e por seu irmão, Rick (John Gallagher Jr.), que afirma ser, ele mesmo, prova da eficácia do tratamento. No período em que os jovens estão no local, eles tentam recorrer a alternativas que os deixem minimamente sãos em relação à realidade fora daquele ambiente: fazem caminhadas matinais para tentar lidar com as lavagens cerebrais a que foram submetidos e com a perda total da liberdade. 

Além disso, o mantra principal do Promessa de Deus é impedir que os indivíduos sejam quem são: Adam, por exemplo, foi forçado a raspar seu cabelo, visto que ter o cabelo minimamente perto do ombro e dos olhos é considerado um “traço afeminado”. Mark – outro menino do internato – tentou suicídio mutilando a própria genitália para não sentir mais atração por homens, e isso ocorreu após seu pai dizer que não o aceitaria de volta em casa, pois “ele ainda era muito afeminado para retornar”. 

Depois desse episódio traumático para todos os jovens do centro religioso, Cam, Adam e Jane percebem que aquele lugar é uma ilusão, e que um sistema que submete pessoas à tortura extrema a ponto delas prefirirem morrer do que assumirem quem são, não é válido nem correto. Dali em diante eles começam a compreender o lugar de resistência que ocupam no mundo e resolvem ir embora como se estivessem saindo para mais uma das rotineiras caminhadas.

O filme, vencedor do Festival de Sundance 2018, é uma crítica aos centros religiosos de conversão gay dos Estados Unidos, conhecidos também como lugares de “cura gay”. Quase 700 mil norte-americanos passaram por esse tratamento, metade quando menores de 18 anos, segundo o Instituto Williams da UCLA. Não é à toa que, como símbolo de revolta e tentativa de conscientização sobre os danos, filmes como “O Mau Exemplo de Cameron Post” e “Boy Erased: Uma verdade anulada” foram criados. 

Infelizmente, um cenário de horror retratado a um contexto de 25 anos atrás, ainda corresponde à realidade atual. Isso porque, nos dias de hoje há muitos países que ainda apoiam essa prática de conversão sexual, como a Rússia. Por isso, leis em relação a essa violência precisam ser urgentemente alteradas, para que, quem sabe em um futuro distante, amar seja permitido independente do sexo e gênero em qualquer lugar.

Por Maria Clara Soares

Serviço:

Título original: The Miseducation of Cameron Post

Onde assistir: Amazon Prime

Classificação indicativa: 16 anos (A16)

Classificação da autora:
16 anos (A16)
Justificativa: grande quantidade de violências mostradas; não é indicado de forma alguma para ser assistido por crianças, por conter cenas explícitas.

Gatilhos: homofobia e tentativa de suicídio.

Gênero: Drama

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