Uma história de luta e resistência: Elisa y Marcela

A imagem mostra Elisa e Marcela andando na praia, ambas com saias rodadas e roupas características da época. Elas carregam seus sapatos nas mãos e se entreolham, Marcela com o semblante sorridente ao olhar para Elisa.
Créditos da imagem: cena do filme

Elisa y Marcela é um filme espanhol, lançado em 2019 pela Netflix e dirigido por Isabel Coixet. Com 113 minutos de duração, o longa é baseado na história real de Elisa Sánchez Loriga e Marcela Gracia Ibeas, um casal lésbico que enfrentou o preconceito e as adversidades para ficarem juntas no contexto de uma sociedade extremamente homofóbica do século XIX.

Inspirada no livro do escritor Narciso de Gabriel e por uma viagem feita à Galicia, comunidade autônoma espanhola, Isabel promete trazer à tona o legado e contar a história dessas duas mulheres, que foram o primeiro e único casal homossexual a se casar pela Igreja Católica. A diretora lança o filme no Festival Internacional de Cinema de Berlim e em alguns cinemas da Espanha antes de chegar na plataforma de streaming. 

A trama gira em torno do romance sáfico entre Elisa (Natalia de Molina) e Marcela (Greta Fernández), e da violência e exclusão social que elas sofrem ao afirmar esse amor entre mulheres. As duas se conheceram numa escola de freiras em que Elisa era uma das professoras e, Marcela, aluna. O preconceito já começa quando o pai de Marcela percebe que há um carinho entre elas e, após ver um beijo na bochecha, dá um tapa na filha. Em seguida, a manda para um colégio interno em Madrid para mantê-la longe da companheira. 

Três anos se passam… elas se reencontram e começam a morar juntas, mas, neste momento, sofrem com os comentários homofóbicos da comunidade, que desconfia que elas sejam um casal. Então, Elisa decide se passar por homem com a identidade de seu primo, Mario, que havia falecido há alguns anos e, assim, poder se casar e ficar junto de sua amada. A esta altura, Marcela tinha engravidado – o pai não é mencionado no filme – para dar mais credibilidade à farsa da identidade de Mario.

Ele, então, conversa com o padre e o convence a casá-los na Igreja Católica, com a desculpa de que sua mulher estava grávida e, por isso, tinham que adiantar o casamento. Após a cerimônia, a comunidade começa a desconfiar que Mario é Elisa disfarçada e denuncia a união, que é até publicada no jornal com a manchete “O casamento sem homem”. A história repercute tanto que chega a toda a Espanha, França e Portugal. 

Como consequência, o casal é excomungado da Igreja Católica, e Mario é submetido a um exame extremamente invasivo para “checar” seu gênero baseado em percepções estritamente biológicas. A saída que encontraram foi fugir para Portugal, mas foram detidas pouco tempo depois. Na cadeia, Marcela deu à luz à sua filha Ana (Sara Casanovas), que depois é deixada para ser criada por um casal que as ajudou a fugir para a Argentina.

A narrativa começa e termina com o encontro de Ana, já adulta, e sua mãe. Nas cenas, Ana questiona Marcela, agora uma senhora de idade, se passar por todo esse preconceito, violência e abandonar sua própria filha valeu a pena para ficar com Elisa. A mãe da menina não responde, mas vai ao encontro de sua esposa em seu cavalo branco, dando a resposta implícita de que “sim”, valeram a pena todos os sacrifícios para ficar com a mulher que ama. 

O filme faz uma crítica à sociedade homofóbica que reprime, violenta e invalida as relações homoafetivas, que, infelizmente, são alvo de preconceito e discriminação até os dias atuais. No final do longa, são mostradas informações chocantes a respeito da perpetuação da homofobia ao decorrer dos anos: o casamento gay, por exemplo, só é permitido em 25 países hoje em dia, e em 72 países a homossexualidade é punida com prisões e penas de morte.

Mesmo com todos esses empecilhos, o casamento de Elisa e Marcela foi símbolo de resistência e nunca conseguiu ser anulado. Hoje, Corunha – província onde moravam – tem uma rua com seus nomes, para que, apesar das tentativas de apagamento e deslegitimação pelos homens que se consideravam donos das histórias, da ciência e das relações, o legado das mulheres que amaram umas às outras jamais seja esquecido. 

Produções como essa, em que os crimes do passado por intolerância são exibidos, são extremamente importantes para a construção de uma sociedade mais instruída e consciente, para que, no futuro, as famílias homossexuais sejam respeitadas e validadas, e amar seja permitido independente do gênero. 

Por Maria Clara Soares

Serviço:

Título original: Elisa y Marcela

Onde assistir: Netflix

Classificação indicativa: 18 anos

Classificação indicativa da autora: 14 anos. Justificativa: O filme tem cenas de sexo explícitas e aborda violências que podem gerar gatilhos

Aviso de gatilho: este texto aborda questões de homofobia

Gênero: Drama, Romance

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