Mulheridades nos ensinam: live sobre racismo, sexismo e transfobia no ambiente acadêmico

Imagem: Captura de Tela da Live. Disponível em: 
Live: Racismo, sexismo e transfobia no ambiente acadêmico

No Dia Nacional de Tereza de Benguela e da Mulher Negra e Dia Internacional da Mulher Negra Latino Americana e Caribenha, 25 de julho, foi ao ar a segunda live da campanha #AssédioZero, da Rede Brasileira de Mulheres Cientistas. Data mais que simbólica nesse país de tantas representações, que foi citada pelas participantes logo no início da conversa. 

As professoras presentes foram Joyce Alves, da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), e Viviane Japiassú, que dá aulas no Instituto Federal do Rio de Janeiro (IFRJ) e na Universidade Veiga de Almeida (UVA). O papo foi mediado por Rosângela Hilário, da Universidade Federal de Rondônia (UNIR). Essa live não estava no script original do cronograma da rede, mas, felizmente, as pesquisadoras tiveram esse momento tão importante de conversa sobre mulheridades do “não lugar”. 

Ao falar em mulheres e/ou pessoas do “não lugar” ou das que não são nem mesmo o “outro”, de Simone de Beauvoir, elas debatem sobre racismo, sexismo, transfobia e assédio partindo de uma perspectiva muito interessante, a interseccionalidade. Pois, como afirma Viviane, é impossível colocar todos os temas sobrepostos, já que assim ficaria difícil de distinguir quais são as afetações enfrentadas por essas mulheres/grupos. 

É preciso identificar e saber que ferramentas utilizar contra cada tipo de preconceito, tendo em vista sempre a não hierarquização das opressões, como colocado por Audre Lorde e citado na conversa das pesquisadoras: 

Imagem: Captura da Tela da Live.

Esse tipo de pensamento é fundamental para relacionar raça, classe, sexualidade, gênero e todos os tipos de recortes, uma vez que não os entendemos como superiores e/ou mais importantes em relação aos outros, mas sim novos fatores a serem pensados. O que significa que podem ser colocados como “camadas”, que, no caso do tema desse bate-papo, são camadas que são quase inexistentes para a sociedade. 

Quando as participantes falam em “mulheridades”, elas consideram todas as pessoas que performam o papel de gênero feminino, como mulheres trans e travestis, mulheres pretas e quilombolas, indígenas, etc. Justamente esse grupo é colocado como “base” da pirâmide social – considerando um homem branco cis hétero como topo – ou, muitas vezes, nem mesmo pertence a essas classificações. 

Elas falam sobre a conquista desses lugares de existência, dentro e fora da academia, em que não existem representantes para essas mulheres, muito menos quando elas precisam de algum suporte. O que gera desistência e/ou inexistência desses corpos inseridos em universidades públicas ou privadas, pós-graduação, docência e posições de liderança. Se os debates de entre homens e mulheres (cis) já foram ampliados, é hora de ampliar e pensar soluções para pessoas trans, pessoas pretas, pessoas com deficiência e todas as demais, aplicando a devida interseccionalidade, claro. 

Rosângela coloca, com veemência, a academia como esse local de pessoas brancas, cis e heternormativas, em que não é interessante alterar essa estrutura, afinal, quem quer abrir mão de seus privilégios? Ninguém. Portanto, são barreiras imensas a serem quebradas por essas mulheres, que são o “não lugar” ainda. 

A não existência de dados sobre quantas pessoas trans existem no Brasil é absurda. Além disso, a falta de dados e recortes de raça, gênero e sexualidade só atrasa o processo de melhoria e possibilidade de existência dessas pessoas todos os dias. Joyce destaca um ponto importante em sua fala: “Não sou livre enquanto outra mulher for prisioneira. Mesmo que as correntes dela sejam diferentes da minha. Oh, Tereza de Benguela, nosso espelho ancestral, sua alma ainda vive, e entre nós, é maioral! Nós honramos sua luta, sua força atemporal.”

Com isso, ela discute bastante a questão de que, antes de chegar e citar a universidade/academia, é preciso muita luta anterior. Muitas dessas mulheres ainda vivem em serviços análogos à escravidão, não têm acesso a educação de qualidade, saneamento básico e tantos outros direitos. É preciso complexificar o tópico e entender que ele não está no mesmo patamar que o feminismo branco, cis e hétero, é muito além disso. 

A Lei Maria da Penha (n. 11.340) completou 17 anos recentemente e é uma das referências na legislação contra violência contra a mulher. No entanto, onde estão as políticas públicas para essas pessoas discutidas na live? O que está reservado para elas? A importância da ciência e da política serem diversas é essencial para essas populações subjugadas o tempo inteiro. 

As hierarquias massacram no mercado de trabalho, nas escolas, nas universidades e em qualquer lugar existente. Dessa forma, é preciso garantir paridade e equidade para, a partir daí, haver efetividade nas ações. Além disso, Joyce ressalta a importância da democratização do acesso, para que não só pós-graduandas consigam compreender, mas também funcionárias terceirizadas que atuam nesses espaços.  

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Título da Live: “Racismo, sexismo e transfobia no ambiente acadêmico”

Participantes: Viviane Japiassú Viana, Joyce Alves e Rosangela Hilário. 

Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=cTTkS7bDUss 

Minha classificação : A live aborda temas difíceis e sensíveis, com representações de violência e assédio. Não é indicado assistir com crianças.

Por Lia Junqueira.

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