
Chegar a um novo lugar é sempre repleto de descobertas e, muitas vezes, experiências ruins que somos alertadas tardiamente sobre não fazer. Assim foi minha chegada a esta cidade e a esta casa. Era tudo lindo, as amizades, as vivências, as festas e até as comidas do Restaurante Universitário – que não costumam ser isso tudo.
Fui notando uma aproximação esquisita, sempre com cumprimentos calorosos e comentários sem noção de um amigo que frequentava muito minha casa. Por muitos meses me questionei: será que é assédio ou esse é o jeito dele?
Com o passar do tempo, comecei a frequentar uma academia na cidade e, muitas vezes que chegava em casa, lá estava ele pronto para comentar sobre as mudanças em meu corpo, frutos dos novos exercícios. Eu ficava acuada e nem respondia, mas estávamos na frente de todo mundo – até mesmo da namorada dele – e ninguém parecia ficar incomodado.
A sensação de estranhamento foi aumentando e eu já não conseguia ficar nos mesmos ambientes sem sentir medo dos comentários desse amigo. Outras meninas que moravam comigo começaram a relatar comportamentos desse mesmo cara, e, para além de comentários, havia mordidas e passadas de mão pelo corpo.
Na verdade, esse era o “jeito dele”, o jeito assediador de ser. Pelo fato de esses atos acontecerem na frente de todas as pessoas que estavam ao nosso redor, era normalizado e a famosa “passada de pano” acontecia diariamente. As tentativas de distanciamento eram falhas, porque ele estava sempre por perto, e sempre sob o mesmo teto que o meu. Quando fomos falar sobre o que estava acontecendo, uma delas só aconselhou: “Não falem nada, só tentem não ficar perto”.
Desde 2018 o Ariadnes escuta relatos anônimos sobre assédio.
