“Práticas Terapêuticas e Políticas de Enfrentamento ao Assédio”: quarta live da Campanha #AssédioZero

Imagem: Captura de Tela da live

As estratégias de enfrentamento, práticas terapêuticas e escuta atenciosa são elementos essenciais no combate ao assédio, e esse foi o tema da quarta Live da Rede Brasileira de Mulheres Cientistas (RBMC), que faz parte da Campanha #AssédioZero. As participantes nos fazem uma recapitulação de lives anteriores e nos alertam para maneiras de combater esses casos. 

Ela foi transmitida no dia 28 de setembro, em que é comemorado o Dia Latino-Americano e Caribenho de Luta pela Descriminalização do Aborto – ponto ressaltado por uma das pesquisadoras presentes na união dessas lutas –, pelo Canal do Youtube da RBMC. A mediação foi realizada por Juliana Arruda, da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ), e teve participação de Maria Ribeiro, da Universidade de São Paulo (USP), e Beatriz Wey, também da UFRRJ. 

Durante a conversa, a professora Maria Ribeiro nos faz um panorama do que foi anteriormente discutido nas lives da campanha, sobre quem são os corpos subalternizados e como os direitos são retirados dessas pessoas – principalmente mulheres pretas, mulheridades, entre outras. Ela relembra ainda que o assédio se dá por relações de poder em que, infelizmente, os assediadores estão em locais de privilégio e pertencentes aos núcleos de decisão. 

Além disso, Beatriz nos traz a informação de que o assédio é algo recentemente estudado – segundo ela, somente nos anos 80 começou uma produção sobre essa prática –, que, no entanto, pode ser observada como “naturalizada” pelas mulheres em diversos ambientes. Isso não é ao acaso, claro, tendo em vista que vivemos em uma sociedade machista e misógina que coloca as mulheres como seres subalternizados, o que as faz “normalizar” e passar por cima de situações como essas. 

E, sendo assim, ao sermos expostas a diversos tipos de assédio, não somos encorajadas a denunciar e protestar contra, por saber como a sociedade se porta e saber que vamos perder espaço no mercado de trabalho, universidade, escola, etc. Por isso, a educação vem como esse fator chave na prevenção e controle do assédio, pois quando sabemos do que se trata, podemos agir de forma mais rápida e precisa. 

As cientistas nos relembram de que as leis não dão conta da complexidade humana, pois, no dia a dia, acontecem uma série de eventos que nos distanciam da normalidade jurídica. No entanto, com a disseminação de informações de qualidade e verdadeiras, é possível alcançar um panorama ideal em que as denúncias de assédio são feitas e os assediadores responsabilizados.

Para isso, é preciso desfazer algumas visões pré-concebidas do ambiente universitário, por exemplo, de que é um local de neutralidade e sem violências, por exemplo. Ao contrário disso, esses ambientes são compostos por pessoas que estão no mesmo mundo machista, logo, possuem reflexos e ações tão péssimas quanto. Estamos constantemente procurando um “lado de lá” para culpar, mas esse lado é o que já estamos. 

O assédio adoece todos em sua volta, desde a vítima até o assediador, por isso, são necessárias ações dentro de um processo sistemático do enfrentamento dessa prática, que necessita de uma estrutura completa. É por meio da escuta, de ações como ouvidorias femininas, professores e professoras aliadas e um sistema de responsabilização eficaz que quebra esse ciclo do assédio.  

Elas nos alertam, por fim, da necessidade do cuidado com quem presta esse suporte e, parafraseando o filósofo alemão citado por elas: “Quem combate monstruosidades deve cuidar para que não se torne um monstro. E, se você olhar longamente para um abismo, o abismo também olha para dentro de você.” (Nietzsche). 

Dessa forma, cuidemos de quem sofre assédio, de quem o combate e, quem sabe, por meio do afeto, mudar ações de possíveis assediadores que rompem com esse ciclo. 

Serviço:  

Título da Live: “Assédio na universidade pública: práticas terapêuticas e políticas de enfrentamento e acolhimento”

Participantes: Juliana Arruda, Maria Ribeiro e Beatriz Wey.

Disponível em: https://www.youtube.com/watch?v=eze2Cj8RjG0 

Minha classificação: A live aborda temas difíceis e sensíveis, com representações de violência e assédio. Não é indicado assistir com crianças.

Texto por Lia Junqueira.

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