Infantilização no protagonismo feminino de heroínas sob pressão

Uma menina não branca de cabelos longos castanhos e lisos, presos em três laços, olha para frente enquanto usa as mãos para controlar água de um lado e fogo do outro formando um círculo.
Korra em cena da animação

Em Avatar: A Lenda de Korra, série de animação de 2012, acompanhamos a trajetória de Korra, jovem que vive em um mundo em que existem pessoas denominadas como dobradores (capazes de dominar um dos quatro elementos naturais) e não dobradores. Dentro desse universo, ela se enquadra como sendo uma Avatar, ou seja, alguém que consegue dominar os quatro elementos, além de ser responsável por manter o equilíbrio entre o mundo espiritual e o físico. Ao longo das 4 temporadas com cerca de 13 episódios cada, vemos a personagem em processo de amadurecimento, enquanto se torna uma adulta e enfrenta diariamente situações envoltas em muita violência para conseguir manter a paz no mundo.

Korra é uma menina bissexual não branca. Pertencente à tribo da Água do Sul, ela é enxergada como alguém fora dos padrões por não performar a feminilidade da maneira esperada, pois além de se interessar muito por lutas, sempre está defendendo de forma assertiva o que acredita. Apesar de carregar a grande responsabilidade de ser uma “Avatar”, e logo, ter que dia após dia se preocupar em proteger o mundo de todas as formas possíveis. Acontece que mesmo sendo uma heroína, ela é vista como uma pessoa imatura e infantil, alguém que “explode” fácil e que se deixa levar pelas emoções. Algo que é relevado quando outros personagens têm a mesma atitude, como no caso de Bolin, um homem branco amigo da protagonista, que quando faz coisas semelhantes a ela, é apenas tomado como uma pessoa “engraçada”, enquanto no caso de Korra asa atitudes são interpretadas como uma espécie de defeito, que fazem com que ela seja vista de modo negativo. 

O que nos leva ao que é dito por Lélia Gonzalez no livro Por um feminismo afro-latino-americano sobre o conceito de infância/infantilização e silenciamento, quanto ao tratamento recebido por mulheres como Korra: “O conceito de infans é constituído a partir da análise da formação psíquica da criança, que, quando falada por adultos na terceira pessoa, é, consequentemente, excluída, ignorada, ausente, apesar de sua presença. Esse discurso é então reproduzido e ela fala de si mesma na terceira pessoa (até o momento em que aprende a mudar pronomes pessoais). Do mesmo modo, nós, mulheres e não brancas, somos convocadas, definidas e classificadas por um sistema ideológico de dominação que nos infantiliza”. 

O que significa que por conta das intersecções que compõem a protagonista, muitas vezes ela é descredibilizada ou inferiorizada, tendo sua voz vista como não responsável o bastante em alguns momentos para exercer o papel de avatar. Essa volta à “infância” como modo de atribuir características imaturas a Korra é tão presente que, em uma das últimas temporadas, quando a protagonista enfrenta um dos momentos mais difíceis da série indo ao mundo espiritual, ela literalmente volta a ser uma criança. Durante o período que passa nesse lugar, ela se sente extremamente vulnerável, e por isso sua forma corporal muda para representar esse momento, marcando não só a associação dela como sendo uma pessoa “infantil”, como também atrelando a vulnerabilidade como uma característica da infância.

Por Lívia Labanca

Serviço:

Título original:  Avatar: A Lenda de Korra

Onde assistir: Netflix

Classificação indicativa: 10 anos (A10)

Classificação da autora: 12

Gênero: Animação

Gatilhos:  violência de gênero, agressões físicas, manipulação, tortura e sequestro.

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