
O filme “O Silêncio de Melinda”, lançado em 2014, é baseado no livro “Fale!”que foi escrito por Laurie Halse Anderson, e conta a história de Melinda Sordino (Kristen Stewart), uma menina de 14 anos que começa a sofrer bullying e a ser ignorada pelos colegas da escola após ligar para a polícia durante uma festa promovida pelos veteranos. A ligação fez com que a festa acabasse e algumas pessoas fossem presas, por conta disso ela começa a ser isolada na escola, e vai aos poucos ficando cada vez mais silenciosa, por sentir que ninguém quer escutá-la de fato. Aos poucos ela vai se abrindo por meio das aulas de arte, e tentando entender o que realmente aconteceu naquele dia traumático, até conseguir compreender que havia sido estuprada por um dos meninos mais adorados do colégio.
Ao longo da trama Melinda vai tendo que aprender a lidar sozinha com seus traumas e com o tratamento que recebe, voltando lentamente a usar a sua voz, primeiro por meio da arte, para depois começar a voltar a expor seus sentimentos publicamente. Em dado momento consegue retomar uma antiga amizade e decide revelar para ela o que aconteceu de verdade naquela noite, e que o seu estuprador era o namorado dessa amiga, mas após finalmente conseguir falar sobre o assunto, Melinda recebe como resposta uma acusação de que está mentindo, o que a deixa muito triste. No final do filme a protagonista consegue recuperar sua voz e voltar a viver de uma forma melhor, todos descobrem o que havia realmente acontecido e ela passa a ser tratada bem novamente.
Mas o tratamento recebido por ela depois do trauma nos mostra mais uma forma de violência, a que é provocada pelo bullying e o silêncio dos colegas, fazendo com que Melinda vá se isolando mais dia após dia, entrando em um quadro muito depressivo. Isso nos leva ao texto “Violência de gênero: o lugar da práxis na construção da subjetividade”, de Heleieth Saffioti, em que a autora realiza uma paráfrase ao dizer que: Chauí consiste em considerar violenta: a ação que trata um ser humano não como sujeito, mas como uma coisa. Esta se caracteriza pela inércia, pela passividade e pelo silêncio, de modo que, quando a atividade e a fala de outrem são impedidas ou anuladas, há violência. Logo, ao excluírem Melinda e podarem todas as suas formas de comunicação, há uma retirada da jovem o poder de se expressar em um dos momentos em que ela mais precisava.
Por meio da história de Melinda nós conseguimos ver um comportamento semelhante ao que acontece na realidade, quando meninas/mulheres sofrem violências e são descredibilizadas ao tentarem expor o que aconteceu. A jovem ficou meses sendo maltratada pelos colegas que sequer se preocuparam em tentar ouvi-la para saber o que tinha acontecido, de modo a violentá-la mais uma vez através do isolamento, enquanto o menino que a havia estuprado era vangloriado. Quando ela finalmente consegue desabafar, uma das primeiras respostas que consegue é a da negação. Como se sua voz não fosse confiável, porque afinal era a palavra dela contra a de um homem que parecia ser o “menino perfeito”, o que nos leva a questionar sobre quais vozes são realmente ouvidas quando decidem se levantar.
Por Lívia Labanca
Serviço:
Título original: Speak
Onde assistir: Google Play
Classificação indicativa: 12 anos (A12)
Classificação da autora: 12
Gênero: Drama
Gatilhos: violência de gênero, agressões físicas, estupro, bullying.
