Caso Maju de Araújo: assédio e capacitismo

Imagem em preto e branco do rosto de uma mulher branca jovem de olhos fechados
 Reprodução: InVoga News

A modelo e influencer de 21 anos Maria Júlia de Araújo Dias, mais conhecida como Maju de Araújo, tem conquistado cada vez mais espaço no mundo da moda, desfilando em eventos importantes tanto nacional quanto internacionalmente. Na sua conta do Instagram (@majudearaujo), ela possui 830 mil seguidores, tendo aparecido em veículos midiáticos de grande notoriedade, como Vogue e Forbes, nas edições brasileiras. Constantemente a jovem usa suas redes sociais para falar sobre moda e sobre sua carreira. Maju possui Síndrome de Down, e através do seu trabalho traz muita representatividade através das campanhas das quais participa no mundo da moda, rompendo os padrões da indústria que costuma representar apenas pessoas sem deficiência. Além disso, a modelo usa seu espaço na mídia para falar também sobre suas experiências enquanto uma PcD (Pessoa com Deficiência), assim como a importância da promoção de um espaço anticapacitista.

Porém, no dia 27 de agosto de 2023, a empresária Adriana de Araújo, mãe da modelo, precisou intervir por meio das redes sociais e de uma nota de repúdio no perfil da filha para trazer ao público os assédios e ataques capacitistas que a garota vinha sofrendo. Ao longo dos anos em que Maju exibia seus trabalhos na internet, já existiam inúmeros ataques contra ela, e a família e equipe da influencer costumavam tentar blindar-lá dessas violências – como é dito na nota – mas, ao lançaram uma campanha publicitária com a jovem como protagonista, a situação alcançou um extremo. Os ataques chegaram a um número imenso, lotando os comentários da publicação com falas de teor sexual e capacitista, que ilustravam ameaças e discriminação com a desculpa de ser uma “brincadeira”.

Na nota, a equipe de Maju expõe vários prints com dezenas de comentários preconceituosos e alerta que irá tomar medidas legais para solucionar a situação, além de pedir para que os ataques cessem. Após a publicação, Adriana e a modelo foram a programas de televisão para falarem do assunto e conscientizarem sobre a gravidade do ocorrido. O cruzamento das violências capacitistas e de gênero nos remetem ao que é dito por Juliana Santos Azeredo no texto Território virtual e a face da violação do direito das mulheres: “A desigualdade de tratamento para homens e mulheres não nasceu da tecnologia, apenas migrou do campo físico para o virtual, fato este se dá devido as pessoas acharem que a internet é um território livre e, com isso, fazer a violência contra a mulher, na vida real, ganhar novos formatos na rede de computadores”. 

Seguindo essa linha de raciocínio, a desigualdade na forma de tratar mulheres e pessoas com deficiência é refletida nas redes sociais. As pessoas utilizam desse espaço para expor seus preconceitos reais como se através desse meio não fosse existir uma retaliação. Entretanto, ataques virtuais não deixam de ser enquadrados como crimes apenas por serem praticados em um ambiente online. O comportamento utilizado contra Maju em relação à deficiência é definido como uma forma de discriminação contra PcDs, um modo de inferiorizar e descredibilizar, seja através de falas ou ações. E segundo o Estatuto da Pessoa com Deficiência, no parágrafo único do Art. 5º, dentre os tipos de pessoas com deficiência consideradas especialmente vulneráveis, estão incluídas as mulheres, logo, ao se aliar os comentários capacitistas e misóginos sofridos por Maju, ocorre um processo de dupla violência, que através de ameaças sobre o seu corpo demonstra o entendimento de que ele não fosse é válido como qualquer outro. 

Texto por Lívia Labanca

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