
Na cerimônia de abertura de um evento internacional, uma aluna toma a palavra e relata, em alto e bom som, os diversos casos de assédio com ela e outras aulas que o professor Paulo Kuhlmann, da Universidade Estadual da Paraíba (UEPB), cometeu. O que vem depois disso?
A denúncia pública se deu no dia 22 de novembro, em João Pessoa (PB), na Conferência do Fórum Universitário Mercosul (FoMerco), no entanto, as práticas de assédio já vinham acontecendo há muito mais tempo. Ela, que prefere não se identificar, repete falas de Paulo que, ao ver a apresentação de uma outra aluna, diz que “vai gozar”, ou que ela, a denunciante, não poderia participar do evento por ser uma mulher e “por estar tendo um caso com o coordenador do curso”; ou ainda que declara ter “tesão” em outra aluna.
Aluna denuncia professor da UEPB por assédio em abertura de evento: ‘Foram muitas vítimas’
Vídeo da aluna. Reprodução: Uol.
Infelizmente, a história não é única no Brasil e, muito menos, no mundo. Mas, por que esses homens não são devidamente culpabilizados?
Esse questionamento é difícil de responder, pois, ao mexermos com as diversas estruturas de poder que existem dentro das instituições de ensino superior, por exemplo, encontramos hierarquias difíceis de serem quebradas com denúncias. O assédio se dá nesses locais justamente por essas relações de poder, entre professor e aluna, orientador e orientanda, professor e professora, professor e técnico, e tantas outras que vemos todos os dias. Além disso, há os “pactos de cumplicidade” entre pessoas que, a princípio, se dizem aliadas da luta, mas, quando as denúncias são efetivadas, se retiram.
Porém, as ouvidorias e canais de denúncia estão, efetivamente, fazendo o quê? Se seus serviços não estão sendo efetivos com as estudantes que as procuram. Como nesse caso na UEPB, relataram à ouvidoria e, como resposta obtiveram: “era sua palavra contra a do professor, e não tinha como provar que ele tinha dito aquilo”, como esse crime pode ser punido?
Na live Como encaminhar as denúncias de assédio?, da Rede Brasileira de Mulheres Cientistas, as pesquisadoras discutem maneiras de nos fazermos ouvidas e capazes de provocar responsabilizações – mais do que devidas – e, além disso, propagar informações, o que torna-se fundamental nesse processo. É inaceitável que uma – ou várias – alunas estejam não só expostas, como também imunes nesse caso, às violências desse professor.
As ouvidorias fazem parte de uma grande estrutura, a Universidade, no entanto, é preciso romper com algumas barreiras para garantir a melhoria da convivência dentro das instituições. Um dos primeiros passos, como descreve Flávia Máximo na live, é conhecer as afetações do assédio e os motivos de se ter uma perspectiva de gênero, que combate a prática violenta que tanto nos afeta.
A UEPB disse, em nota, que o processo segue em tramitação desde 31 de outubro, quando foi inicialmente apresentado, e diz ainda que, em casos de assédio, é necessário mais tempo para estudar medidas cabíveis. Dessa forma, espera-se que o processo tramite e as devidas providências sejam tomadas, com justiça para esses corpos violentados e mudança no ambiente acadêmico, que já está exaurido de tanto trauma.
O assédio permeia nossas vidas e nossa existência, mas continuaremos lutando contra ele, juntas.
Por Lia Junqueira.
